16/05/2023 Atualizado em : 02/04/2024

Controles Internos e Governança: Lei Sarbanes Oxley – SOX (Parte 1)

16/05/2023 Atualizado em : 02/04/2024

A Lei Sarbanes-Oxley assinada em 30 de julho de 2002 pelo senador Paul Sarbanes e pelo deputado Michael Oxley, durante o governo do presidente George W Bush, foi impulsionada para proteger investidores e demais stakeholders dos erros das escriturações contábeis e práticas fraudulentas.

A lei surgiu como resposta a uma série de escândalos financeiros que atingiram empresas como Xerox e Enron.

O Objetivo da Lei Sarbanes-Oxley é aprimorar a  governança corporativa, os controles internos e a prestação de contas (informações sobre receitasdespesasbalanço patrimonial e total de ativos e passivos), Identificando, combatendo e prevenindo as fraudes que impactam no desempenho financeiro das organizações, garantindo assim o compliance e a integridade corporativa.

A Lei SOX, como também é chamada, obriga empresas a reestruturarem os seus processos internos com os objetivos de aumentar controles, transparência e confiabilidade na:

Todas as empresas, sejam americanas ou não, com ações na SEC (Securities and Exchange Comission) devem seguir as definições da SOx.

A Lei SOX assegura que as informações contábeis não estão maquiadas, além de definir quais os registros devem ser armazenados (registros comerciais, eletrônicos e mensagens eletrônicas) por 05 (cinco) anos.

A Lei SOX visa resguardar empresas, governos, investidores e consumidores de uma eventual fraude contábil.

De um modo geral, a SOX se define por medidas de boas práticas de governança corporativa e as consequências para o não cumprimento de acordo com as regras dos EUA variam desde multas até prisão.

CASO ERON CORPORATION

A CIA elétrica Americana Enron Corporation, uma das maiores no setor de energia, foi protagonista de uma das maiores fraudes contábeis do mundo.

O caso consistiu em uma série de desvios, maquiagem contábeis e fiscais, manipulação de balanços, incluindo a ocultação de dívidas “bilhões” de dólares, com o intuito de ludibriar investidores.

A empresa de auditoria externa, Arthur Andersen, contratada para auditar a CIA Enron foi condenada por obstrução de informações.

A CIA Enron pediu falência em dezembro/2021, e foi alvo de uma série de processos tanto de investidores quanto do governo americano, gerando prejuízos para uma série de stakeholders e motivando o desenvolvimento de ações mais rígidas no combate aos escândalos corporativos.

A Lei SOX tem por finalidade ressaltar o papel crítico do “controle interno”, estes controles são desenvolvidos pela Diretoria Executiva, Conselho de Administração, Compliance-officer ou por colaboradores que garantem o sucesso dos negócios em algumas práticas:

  • Eficácia e eficiência das operações;
  • Confiabilidade e transparência nos relatórios financeiros;
  • Cumprimento de leis e regulamentos aplicáveis.

A Lei Sarbanes-Oxley esclarece que os diretores executivos e diretores financeiros serão responsáveis por estabelecer, analisar e controlar a eficácia dos controles internos sobre os relatórios financeiros e divulgações.

A Lei SOX é fundamental para legislação empresarial, tributária, financeira e de compliance. Esta lei conseguiu mudar o ambiente empresarial, governamental e regulador, a Lei SOX estabelece:

  • Práticas corporativas que afetam os mercados de ações e que visam transparência e precisão nos reportes financeiros;
  • Comitê de supervisão responsável pelas práticas de auditoria;
  • Responsabilidades dos comitês de auditoria e executivos das empresas;
  • Existência de códigos de ética;
  • Aumento das punições em caso de fraudes corporativas;
  • Exigências de regras para abordar conflitos de interesses;
  • Responsabilização da Alta Administração pela existência e adequado funcionamento da estrutura de Controles (seções 302 e 404).

 

O que diz a Lei Sarbanes-Oxley (SOx)

A Lei SOX divide-se em onze capítulos com um total de 69 artigos.

As seções consideradas mais importantes da Lei Sarbanes-Oxley são os artigos 302, 401, 404, 409, 802, 806, 902 e 906.

Seção 302: Responsabilidade Corporativa pelos Relatórios Financeiros.

Seção 401: Divulgações em Relatórios Periódicos.

Seção 404: Avaliação Gerencial de Controles Internos.

Seção 409: Divulgações do Emissor em Tempo Real.

Seção 802: Penalidades Criminais por Alteração de Documentos.

Seção 806: Proteção para funcionários de empresas de capital aberto que fornecem evidências de fraude.

Seção 902: Tentativas e conspirações para cometer crimes de fraude.

Seção 906: Responsabilidade Corporativa por Relatórios Financeiros.

O intuito principal da SOx é o de garantir transparência na gestão empresarial e reduzir riscos.

Para isso, é necessário evitar fraudes e estabelecer mecanismos que identifiquem os casos em que elas ocorrerem, de acordo com a Lei as empresas devem criar processos confiáveis de auditoria e segurança.

Para supervisionar o processo de auditoria nas empresas que se enquadram à SOX criou-se o Public Company Accounting Oversight Board (PCAOB) ou Conselho de Auditores de Companhias Abertas.

A PCAOB tem como missão estabelecer controle de qualidade e normas de auditoria, bem como atuar com ética e independência em relação aos processos de inspeção e a emissão dos relatórios de auditoria. Nesse caso, os auditores devem ser registrados na PCAOB.

Segundo a SOX, os Diretores Financeiros (CFO) se tornaram totalmente responsáveis por realizar o monitoramento dos controles internos no que diz respeito à divulgação de informações dos relatórios financeiros.

A SOX também faz referência sobre os Generally Accepted Accounting Principles (GAAP), a versão US GAAP é utilizada para definir as práticas e normas contábeis a serem aplicadas.

A Lei Sarbanes-Oxley obrigou o mundo corporativo e seus executivos a olhar para a Governança Corporativa, principalmente no que diz respeito ao compliance financeiro, tornando estes processos obrigatórios que auxiliarão na eficácia dos controles internos, sobretudo os relacionados à elaboração de suas demonstrações financeiras (Internal Control Over Financial Reporting -ICOFR).

 

Seções da Lei Sarbanes-Oxley:

OBS: A maior abrangência da Lei SOX concentra-se nas Seções 302 e 404.

  • Seção 302:
  • Exige que a alta administração, os diretores executivos (CEO), os diretores financeiro (CFO) e o Presidente (chairman), certifiquem e aprovem a exatidão das demonstrações financeiras e a eficácia dos controles, além de declarar pessoalmente que são responsáveis pelos controles e procedimentos de divulgação de relatórios (Autodeclaração).
  • Seção 401:
  • As demonstrações financeiras publicadas devem ser precisas e transparentes de forma que não contenham declarações incorretas.
  •  As demonstrações contábeis devem incluir todos os passivos, obrigações ou transações.
  • Seção 404: 
  • Os emissores das demonstrações financeiras são obrigados a publicar informações em seus relatórios anuais sobre o escopo e a adequação da estrutura de controle interno e os procedimentos para relatórios financeiros. Esta declaração deve também avaliar a eficácia de tais controles e procedimentos internos.
  • A empresa de contabilidade registrada deve, no mesmo relatório, atestar e informar sobre a avaliação da eficácia da estrutura de controle interno e dos procedimentos de apresentação de relatórios financeiros.
  • A Lei Sarbanes-Oxley incentivou as empresas a tornar seus relatórios financeiros mais eficientes.
  • Avaliação anual de todos os controles e procedimentos internos para que sejam emitidos os relatórios financeiros.
  • O auditor externo deve emitir um relatório onde o mesmo atesta a veracidade das informações do controle interno.
  • Seção 409:
  • Os emissores são obrigados a divulgar ao público, com urgência, informações sobre mudanças significativas na condição financeira ou nas operações da organização.
  • Seção 802:
  • Impõe multas e/ou até 20 anos de prisão nos casos de alteração, destruição, ocultação e/ou falsificação de registros, documentos ou objetos tangíveis com a intenção de obstruir, impedir ou influenciar uma investigação legal.
  • Esta seção também impõe penalidades de multas e/ou prisão de até 10 anos em qualquer contador que conscientemente e intencionalmente viola os requisitos de manutenção de todos os documentos de auditoria ou revisão por um período de 5 anos.
  • Seção 806:
  • Proteção para funcionários de empresas de capital aberto que fornecem evidências de fraude
  • Esta seção protege esses denunciantes de retaliação por parte da empresa. De acordo com esta seção, um funcionário está envolvido em conduta protegida de denunciante se suspeitar e relatar: fraudes contábeis, financeiras, bancária, violação de qualquer regra ou regulamento da Securities and Exchange Commission (SEC)
  • De acordo com esta seção, alguém que retaliar um denunciante pode estar sujeito a acusações criminais.
  • Seção 902:
  • Tentativas e conspirações para cometer crimes de fraude.
  • Aprimoramento da Pena de Crime do Colarinho Branco.
  • Qualquer pessoa que tente ou conspire cometer qualquer delito nos termos deste capítulo estará sujeita às mesmas penas que as previstas para o delito, cuja prática foi objeto da tentativa ou conspiração.
  • Um executivo que violar a SOX de forma fraudulenta estará sujeito às penalidades usuais, sejam multas ou prisão, por fraude.
  • Seção 906:
  • Exige que Diretores Executivos e Diretores Financeiros assinem e certifiquem o relatório periódico contendo as demonstrações financeiras.
  • A certificação executiva declara que o relatório cumpre as exigências de emissão de relatórios determinadas pela SEC e que representam adequadamente a condição financeira da companhia, bem como os resultados de suas operações
  • Aborda penalidades criminais para a certificação de um relatório financeiro enganoso ou fraudulento.
  • O descumprimento dessa exigência tem um alto preço: multas de até US$5 milhões e até 20 anos de prisão podem ser as penas impostas para o descumprimento intencional.

A Sarbanes-Oxley mudou a forma de se fazer a contabilidade corporativa, além de ter gerado mudanças que afetam a forma como as empresas realizam seus controles internos, auditoria e compliance, além de sua responsabilidade perante os órgãos reguladores.

Caro Leitor, no próximo artigo será abordado a governança e as etapas dos controles internos baseados na Lei Sarbanes Oxley.

Acesse o artigo: CONTROLES INTERNOS E GOVERNANÇA: LEI SARBANES OXLEY – SOX (Parte II) 

Referências:

Autor: Alberto Luiz Bloise Jaccoud Cardoso
Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Cândido Mendes e Direito pela Universidade Estácio de Sá. Especializou-se em Direito com prática Forense pela FEMPERJ (Fundação Ministério Público do Estado do RJ), Pós-graduado em Planejamento Estratégico e Qualidade Total, em Direito Empresarial e Societário, ambos pela Universidade Cândido Mendes. Atualmente estuda MBA em Controladoria pela Escola de Negócios Saint Paul. Possui experiência em Instituições Financeiras, BIG FOUR, Indústrias de OIL & GAS, Advocacia, Finanças, Consultorias, Auditorias Empresariais e Compliance. Vivenciando ambiente de empresas nacionais e internacionais, passando por diversas áreas e departamentos, tendo atuado na Gestão Financeira, Comercial, Jurídica, Auditoria e Compliance.